viernes, 10 de octubre de 2008

Crónica desde a cidade nuclear

Esquecida durante séculos, evaquada coma quem di a perpetuidade, aventuro-me eu na cidade da desgraça. A pesada escafandra, coberta de chumbo, nom me permite mover-me com naturalidade, convertendo-me numha sorte de cosmonauta na sua própria terra. De seguro que se os habitantes do lugar me tivessem visto com este atavio no tempo no que eram tal cousa, haveriam ceivar algumha gargalhada à minha conta. Hoje, porém, o conto é-vos bem outro.

Adentro-me, pois, na vilinha, que foi vindo a mais co auge da central, associada daquela ao progresso e ao adianto por traer emprego e caudais a umha comarca deprimida, um século depois da negativa rotunda de Xove. É possível que a vila marinhá tivesse acabado por ser, coma esta, umha das mais populosas localidades galegas. Talvez lhe sobrevinhesse também a catástrofe, tal como acontecera na vila de Pripiat, Ucraína. Umha súpeta fusom do núcleo converteu a oportunidade em êxodo e o dinamismo em desfeita.

E vou-me deixando de reflexons hipotéticas, umha vez passado o que passou. Os primeiros passos na zona restringida som, efectivamente, como pisar a lua. Mas umha lua que foi terra algumha vez, como um simulacro de vida ainda latejante. O ambiente que se respira, se me é permitida a hipérbole desde dentro deste traje, é o dum quadro estantio: cinemas, tendas, bibliotecas... parece que ainda estám a ser utilizadas, ao tempo que semelha impossível que o fossem algum dia. E é que neste ar silente aboia umha contradiçom, que sobrecolhe mais do que qualquer estrondo. O tránsito quedo deixou a vila a meio abandonar, e vai alá a metade dum século. Qualquer um diria que entre os mais poderosos efeitos da radiaçom se conta o de deter o tempo.



Aurélio Gondaísque, correspondente do Jornal da Chaira. Abril do 2077.